Novo Fado da Severa (Decca, 1964)

Lado A

1 - Novo Fado da Severa (Júlio Dantas - Frederico de Freitas)

2 - Deixa Lá (Nóbrega e Sousa - Jerónimo Bragança)

Lado B

1 - Maria Solidão (Nóbrega e Sousa - Jerónimo Bragança)

2 - Olhos Nos Olhos (Carlos Canelhas - António Antão)


Notas:

A1 - Conjunto de Helder Martins

A2 e B1 - Orquestra dirigida por Joaquim Luís Gomes

B2 - Orquestra dirigida por Jorge Costa Pinto

PEP 1070

... Simone reinaugurou a canção portuguesa. Introduziu-lhe modernidade lucidez e dramatismo. A canção portuguesa era um cartaz de turismo a esfarelar-se num tapume. Tinha galo de Barcelos, tinha fole de acordeão, tinha fandango. O sol era uma lâmpada de 25 velas pintada de amarelo. A alegria era um esgar sem cálcio. Vivia do lugar-comum, da quadra e da charanga.

Simone reinaugurou-a. Estilhaçou-lhe a estrutura rígida. Deu-lhe maleabilidade, comunicou-lhe humanidade, tornou-a habitável.

Simone intelectualizou-a, conferiu-lhe um significado, criou para ela uma linguagem certa, clara e funcional. Deu-lhe uma expressão, uma dimensão humana.

Simone invadiu-a de sensibilidade. Preencheu essa faixa vazia que está entre a palavra e a emoção. A canção portuguesa era um manequim de museu de arte popular, com um riso de papelão e brincos de filigrana. A canção portuguesa foi actualizada e humanizada... Simone criou um estilo que é suficientemente amplo, rico e flexível para suportar um repertório. Simone não é riso que canta nem um autómato que gesticula. Cada canção é uma forma. Cada canção exige uma interpretação. Simone compreende as palavras que profere. A canção de Simone pertence-lhe. Identifica-se com ela. As palavras não têm existência autónoma. É Simone que lhes dá sentido, força emocional, densidade.

Simone não é a voz obediente que articula rimas e ondula no perfil da melodia.

A canção está nela e nunca é igual.

... Simone está entre Maysa, com a sua tristeza dolente, e Piaff, com o seu desespero frenético. Se souber exigir para o seu talento as palavras e a música do tempo e do estilo que lhe pertencem, Simone será a actriz e a voz de toda uma década.

ARTUR PORTELA, filho

it Rádio e Televisão


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